No vinho, primeiro de tudo você sonha.
E sonho é idealização, não tem limite, não tem freio nem controle. A gente sonha com o que quiser. E por ser sonho, quando a realidade bate, muita gente abandona o barco. E é por isso que eu digo, não há vinho sem amor.
Trabalhar com vinhos é um desafio tremendo. No Brasil então, é necessário muito amor e comprometimento com a causa. Não temos o hábito de beber vinho como os europeus, não faz parte da nossa cultura. Seja você quem for nesse mundo do vinho no Brasil, acima e antes de tudo, você precisa ser um divulgador, um educador, um guia para que outros possam seguir a estrada de tijolos amarelos igual a Dorothy em Oz, e assim, pouco a pouco, o vinho pode entrar na vida das pessoas, os produtores, importadores e comerciantes podem vender seus excedentes e prosperarem no negócio. Ensinar é um ato de amor.
Produzir é um ato de amor. O produtor que cuida das uvas como se fossem filhas, se preocupa quando chove demais, se desespera quando as doenças atacam. O produtor que acompanha ano após ano nascimentos e nascimentos de bebidas que, futuramente, vão encantar e apaixonar pessoas. Pessoas estas que, um dia quem sabe, podem escolher dedicar suas vidas ao trabalho com o vinho como aconteceu comigo. O consumidor que pesquisa, lê, que até vai fazer um curso de Sommelier apenas pelo prazer de se perder, de se entender pequeno diante da imensidão que o mundo do vinho se apresenta. Como já disse Jean Paul Sartre, filósofo francês, o amor é um compromisso muito grande, que exige que em algum momento a gente se jogue sem garantia de que aquilo vai dar certo. Essa queda no mundo do vinho é praticamente infinita, visto que o fruto do amor de produtores dedicados nos rendem uma variedade absolutamente gigantesca de estilos e gostos. Se jogar no mundo do vinho é um ato de coragem, assim como em um relacionamento, há que ser corajoso para amar.
Por fim, se comprometer com o vinho é um ato de amor. Importar vinho é um ato de amor, porque se há compromisso maior que este no setor, eu desconheço. Compramos grandes volumes e resolvemos os problemas dos produtores (e do governo que arrecada todos os impostos logo na entrada). Vendemos pequenos volumes e resolvemos o problema dos nossos clientes que não podem ou não querem se estocar, tampouco investir antecipadamente – e quanto às nossas dificuldades... bem, tem coisas que só o amor pra explicar!